1º de janeiro de 2020

Está chovendo lá fora. Uma garoa fina e clara, iluminada e quente. Úmida como só um pós-réveillon pode ser. Que absurdo. “Réveillon”, quem escreve isso? Aqui é virada. Pois é. A luz que entra pela janela aquece meus pés. É começo de ano e eu me pergunto “quem quero ser”. O que sou já estrala em meus ossos. Frágeis? Densos? Não sei. Talvez pese nada. Talvez pese muito. Meu eu-lírico me engana e se confunde comigo. Que seja. Converso com gatos e plantas, peço licença pra pisar em qualquer chão. Me viro do avesso tão rapidamente que, se fosse um livro, minhas páginas mudariam de caligrafia a cada parágrafo. Talvez por isso tenha tão poucos. Me contrario nas sutilezas. Que seja. Quase me pergunto se sou um personagem. Se sou o que imaginei de mim. Se essa epopeia decairá em comédia... Tragédia, não, tenho tons vis demais para os devotos hipócritas. Prefiro a baixeza do tom e da tônica. Atentem-se ao tônus que quiserem. Tentação, não. Aqui temos uma falsa incógnita. Afinal, eu sou o que você vê de mim? Lê de mim? Ou eu sou o que me faço ser? Um personagem? Talvez todos sejam. Mas me pego pensando o que somos agora.
Amanhã vou saber. Amanhã talvez chova.

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