a bailarina e o astronauta

bruna ou inaraí
2 min readApr 19, 2021

eu queria estar em uma explosão nuclear agora. próxima a uma supernova catastrófica, incendiada por prótons, elétrons e outras coisas que não sei o nome.
eu queria que minha pele queimasse e a velocidade da luz ultrapassasse meu corpo como uma rajada de fé.
eu queria que o meu espírito se espaguetificasse no horizonte de possibilidades de um buraco negro mais denso que a via láctea inteira.
eu queria dançar com a constelação mais próxima daquele planeta gasoso de órbita excêntrica; ou até mesmo um cometa de cabelos brilhantes a cruzar o teu céu em milênios. você pegaria seu telescópio e esperaria a noite toda pra me ver passar.
mas eu não tenho coragem de tirar meus pés da terra. já sei que se fosse à lua, plantaria flores por lá. eu levo dores terrenas e frutifico-as num mundo que não é meu; talvez para ter terra onde rodar e rodar até esquecer seu nome.
esse é só um desespero gravitacional que me atrai até você como se eu fosse um satélite condenado. há quem diga que a lua se afasta da terra a cada ano que passa, mas eu, pelo contrário, me sinto cada vez mais atraída pra tua órbita cheia de lixo espacial.
por que você abandona a terra, astronauta? água de verdade e fruta do pé não te são suficientes? por que você nunca dançou comigo, homem do espaço? as estrelas estão longes e elas vão te matar. matarão a todos nós. o sol se torna cada vez mais instável e a vida aqui na terra é um sopro. por que quer deixá-la, astronauta? o chão sob o nossos pés é resultado caótico de um ordem cósmica absurda. somos só um ponto no espaço e viajar no tempo não nos fará eternos.
os corpos humanos e celestes já estão a dançar pelo palco da existência, astronauta. dance comigo esta noite, me deixe olhar as estrelas enquanto seguro sua mão pela última vez.

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