sobre aluguéis torácicos e expectativas vãs

Eu queria fazer cantigas infantis e mergulhar num peito-abraço que acalmasse minhas dores. Os joelhos não doem. Os ombros é que estão irremediavelmente doloridos.
Ele me ofereceu uma massagem. Eu gostava das suas mãos. As minhas, tão pequenas, não retinham o calor de mim. Eu deixava as suas me tocarem. E era sempre rápido demais.
Me culpei tanto como permiti que ele fizesse morada em meu peito. Eu fiz o convite. “Entra, fica”. Mas isso de convite ao peito só funciona sem permanência. O aluguel é caro e a mudança e o gasto sempre ficam às minhas curas.
Cega e tola. Demorei anos pra gostar de mim e o toque alheio precisou apenas de um para que eu me odiasse novamente. Mas ele não percebe isso. Ele não entende nada. Nem de mim. Nem de aluguéis. Nem de massagens.

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